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Entenda como o Corinthians pretende quitar a dívida da Neo Química Arena

Recentemente o Corinthians divulgou que está em negociações avançadas para quitar a dívida relacionada à Neo Química Arena, a ideia do clube é buscar uma abordagem inovadora junto à Caixa Econômica Federal. Dentro da proposta já enviada a estatal, pouco menos de 50% seria pago usando a renda advinda da venda do naming rights da Arena, enquanto que a segunda parte poderá ser quitada com a compra de títulos semelhantes a precatórios.

Em entrevista concedida ao site Meu Timão, o diretor financeiro do clube, Wesley Melo explicou como a proposta funcionaria. “Minha dívida vai ser residual. Significa quitar a dívida da Arena? Esses R$ 700 milhões com a Caixa estarão quitados. Aí vou pagar um valor residual em cinco ou oito anos, o que ainda está sendo discutido, para esse cedente do título. Vai ser algo muito suave. Não vou ter mais a despesa de juros, que é muito alto. Todo mundo ganha com essa operação”, iniciou o diretor financeiro.

O que a gente está conversando é de pagar direto o valor para essa empresa em cinco ou oito anos, provavelmente cinco, e só com correção da IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado), sem os juros. E nessa projeção, podemos pagar de uma maneira relativamente tranquila. Teremos, por exemplo, a receita de bilheteria para pagar”, concluiu Wesley.

Ainda de acordo com o diretor financeiro do clube, a proposta não resultaria em prejuízo as partes envolvidas. A visão parte do princípio de que em um primeiro momento o valor que hoje é repassado ao Corinthians, referente a venda do naming rights da Arena para a Hypera Pharma, seria depositado diretamente na conta da Caixa, sem passar pelo clube. O valor hoje gera entorno de 17,8 milhões por ano e faz parte de um montante de 300 milhões que o clube tem a receber.

A outra parte da dívida poderá ser quitada mediante a compra de títulos como precatórios com deságio de 90%. Simplificando, o clube equacionaria a sua dívida atual adquirindo e quitando dívidas da Caixa com outras empresas.

Deste modo, a estimativa é de que a dívida poderia ser reduzida em até 90%, permitindo ao clube solucionar a questão. A proposta, enviada formalmente a Caixa na última sexta-feira (18), ainda deverá passar por uma avaliação perante os órgãos reguladores.

A compra de precatórios pode ser uma boa opção para dívidas no futebol?

Na opinião do especialista da Jequitibá Investimentos, empresa especializada em precatórios, Fúlvio Rebouças, a compra de precatórios pode se revelar uma boa saída para solucionar dívidas no futebol brasileiro. Embora não seja uma prática comum, a operação é viável a depender da natureza da dívida e do prazo.

“Se fosse uma dívida com a União Federal ou alguma empresa da administração pública federal, a aceitação dos precatórios seria obrigatória, pois é modalidade de satisfação de dívida prevista na Constituição Federal, mas a Caixa tem regime um pouco distinto, pois é banco, ainda que público. O que chama a atenção neste caso, entretanto, é que não é comum uma negociação de precatório com deságio de 90%. Hoje, o mercado costuma negociar com credores deságios que variam entre 30% e 40%, que são bons para ambas as partes”, iniciou avaliando a negociação entre Caixa e Corinthians.

“Porém, caso essa carteira seja de títulos de longuíssimo prazo (que demorariam décadas para serem pagos) e de natureza não-alimentar (que têm uma legislação mais restrita em relação ao deságio), não é impossível, além de ser uma proposta bastante razoável e interessante também para a Caixa, uma vez que para a instituição financeira o que vale é o valor ‘de face’ dos títulos, que é de R$ 300 milhões”, concluiu.

Ou seja, com base na avaliação do especialista ouvido pelo Portal N10, a opção de fato é viável e serviria ao interesse das partes envolvidas. Deste modo, é natural pensarmos que o mesmo mecanismo poderia servir a situações semelhantes enfrentadas também por outros clubes do futebol brasileiro, como avalia Rebouças.

Utilizar precatórios para quitar dívidas federais é um recurso interessante para empresas e até outros clubes de futebol, mas é importante que conte com o apoio de especialistas. No último ano fomos procurados por algumas SAFs (Sociedades Anônimas de Futebol) com interesses parecidos e essa proposta do Corinthians tem tudo para se tornar uma tendência”, finalizou Fúlvio Rebouças, sócio-fundador da Jequitibá Investimentos.

Hiago Luis

Editor-chefe e jornalista esportivo no Portal N10, formado em jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2016). Experiências no jornalismo impresso, rádio, TV e assessoria de comunicação, entre outros. Dicas e sugestões de pauta, enviar para: [email protected]

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